Your true face... What kind of... face is it? I wonder... The face under the mask... Is that... your true face?
Produtoras: Nintendo EAD e Grezzo
Publisher: Nintendo
Plataforma: 3DS
Tenho diante de mim um dilema: vontade de escrever sobre um jogo tão diferente (e ao mesmo tempo tão parecido) da série The Legend of Zelda e que, ainda por cima, é um remake de um jogo que eu não jogo há anos e anos no console original. Bom, ao menos não tenho um limite de três dias para escrever a análise, e nem tenho uma caderneta de pessoas precisando de minha ajuda. Então vamos lá.
“Minha máscara... você a trouxe de volta, não?”
The Legend of Zelda: Majora’s Mask foi lançado há muito tempo, em 2000. O jogo foi um bom sucesso, especialmente após The Legend of Zelda: Ocarina of Time, que é tido como um dos melhores jogos de todos os tempos. Seguindo o fervor deste, a equipe se permitiu fazer um jogo diferente do usual, com um clima muito, mas muito estranho. E agora você pode sentir toda essa estranheza na tela do seu 3DS (e com o 3D ligado – mas eu não ligo esse efeito).
O jogo começa com o Link criança em uma floresta (possivelmente Lost Woods) procurando por sua amiga (ou amigo, o jogo não especifica, mas dá para imaginar quem seja), quando é abordado por Skull Kid, um estranho ser usando uma máscara roxa, a Majora’s Mask (ou Máscara de Majora, em uma tradução não oficial) e tem sua Ocarina e égua (Epona) roubadas por ele.
Em desespero, Link o segue, entrando, basicamente, em outra dimensão e sendo transformado, pelo poder terrível da máscara, em um ser de outra raça, um Deku Scrub. Um destino terrível, certamente.
Depois de ser transformado em um ser abominável, Link entra em uma torre de relógio e se encontra com um vendedor de máscaras, um homem enigmático (que já existia em Ocarina of Time) que diz-lhe que uma terrível máscara foi-lhe roubada, e que esta poderia trazer caos e destruição.
E daí para a frente começa todo o drama de Termina, uma terra destinada a sofrer um colapso com uma lua horrorosa devido aos poderes terríveis que a Máscara causa em Skull Kid.
O Carnaval do Tempo
Ocarina of Time trouxe o tempo como tema fundamental do jogo, e Majora’s Mask levou isso ao extremo: Link tem apenas três dias (contados com o tempo do jogo, que se passa mais rápido do que três dias reais) para impedir que toda a destruição aconteça. Ao invés de ir e voltar no tempo fixamente, sete anos para a frente ou sete anos para trás (que é o que ocorre em Ocarina of Time), em Termina Link deve ir e voltar um curtíssimo período de tempo, onde tudo vai ocorrendo novamente, da mesma maneira, as pessoas com a mesma rotina (e as mudanças que ocorrem nesses três dias são muito mais dinâmicas do que as que ocorrem em sete anos do primeiro jogo do Nintendo 64 [que também está disponível em sua versão 3D para o 3DS).
Todas essas rotinas têm um objetivo para a dinâmica do jogo: as inúmeras missões paralelas que o jogo apresenta. Link possui uma caderneta de anotações, e o jogo vai anotando os eventos importantes que você cumpre automaticamente, para que você não se perca ao voltar no tempo.
Vale ressaltar que a relevância dos personagens não jogáveis de Majora’s Mask é muito maior do que em qualquer outro jogo da série, especialmente para quem quer completar tudo do jogo. A exploração do jogo está mais baseada em saber quem estará em algum lugar a certa hora, caso alguma ação tenha sido tomada pelo jogador anteriormente, do que em ficar encontrando um lugar para explodir uma bomba ou um mato que revela um buraco.
Nesse ponto, o conteúdo além-dungeon (dungeons estas que são o pilar fundamental dos jogos da série em 3D) dá aula para qualquer outro jogo da série em 3D. Lembra-se do marasmo em Skyward Sword? De coletar os chatíssimos insetos em Twilight Princess? Ou de navegar até ilhotas sem nada de muito interessante em Wind Waker? Esqueça tudo isso ao jogar Majora’s Mask: o conteúdo do jogo é enorme, e muito dinâmico, fluído e inteligente. Prestar atenção na rotina alheia (feito um fuxiqueiro mesmo) e entender seus problemas, e procurar resolvê-los. Há missões que duram até as últimas horas do terceiro dia, pouco antes da lua colidir com Termina.
Elas envolvem muita coisa: levar um item em específico para alguém, entregar cartas, trocar itens, se aventurar em algum minigame, matar fantasmas... a variedade é grande, e a recompensa, na maioria das vezes, é outro pilar fundamental do jogo: as máscaras.
“Eu viajo longe em busca de máscaras.”
Com um título como Majora’s Mask, não seria difícil de supor que colocariam máscaras no meio da dinâmica de gameplay do jogo. Quase tudo gira em torno disso, desde ativar uma missão paralela, até usar determinada máscara para facilitar a passagem de alguma parte.
O jogo possui vinte e quatro máscaras, bastante coisa até, e a grande maioria não serve para nada a não ser ativar ou finalizar alguma missão. Mas temos várias que também são úteis, especialmente a Blast Mask (que explode ao custo de um coração, substituindo uma bomba, para o caso de você não ter à mão) e a Stone Mask (que faz inimigos comuns passarem por você sem nem te ver – e também causa o mesmo efeito em NPCs).
Pegar todas as máscaras durante o jogo é facultativo, mas obtê-las é imperativo para conseguir a melhor recompensa ao final do jogo, antes da última batalha, além de ser muito legal pegá-las.
As principais máscaras são as de transformação, estas obtemos em momentos específicos da história principal. Link havia se tornado um Deku Scrub no início e, após ser curado depois das primeiras missões, consegue voltar ao normal e obtém a máscara de sua maldição, podendo voltar a ser um Deku Scrub quando bem entender. Da mesma forma, Link também pode se tornar um Goron e um Zora (duas das raças mais conhecidas da série). Toda essa troca de máscaras serve para acessar novas áreas no jogo e avançar pelos dungeons, cada qual com suas especificidades: o fraco Deku Scrub é bom para pular na água; o Goron é forte e pode andar por lava; e o Zora pode nadar e andar pelo chão de lugares inundados (ou no leito do mar, rios e lagos). Além de cada um possuir seu instrumento musical quando a Ocarina é ativada, um charminho a mais para o jogo.
Por essas máscaras darem a Link mais poderes e diferentes armas, o arsenal de itens foi diminuído, e Link tem, de funcional mesmo, o Hookshot e o Arco-e-Flecha, o restante sendo potes, a Lens of Truth e aqueles colecionáveis no caminho, como a Deku Nut (inútil em qualquer situação de batalha) ou o Deku Stick (que serve mais para atear fogo em algum lugar necessário do que para lutar mesmo).
Pântano. Montanha. Oceano. Cânion.
Zelda é conhecido por ter um enorme número de dungeons em seus jogos. O primeiro jogo da série, lá do Nintendinho, possui nove. A Link to the Past, doze. Ocarina of Time tem nove, como o primeiro. E o último jogo lançado da série, A Link Between Worlds, possui doze, como o do Super Nintendo. E Majora’s Mask possui quatro. Isso, quatro grandes dungeons oficiais, com mini dungeons para serem feitas até entrar na próxima dungeon principal.
É de se pensar, portanto, que Majora’s Mask é um jogo bem curto, mas pelo contrário: é bastante longo, porque vai te fazer caçar mais coletáveis do que os outros da série. E suas dungeons são um pouco mais longas do que o normal.
Baseadas muito mais em puzzles do que em batalhas, as dungeons do jogo são bastante lineares, e seguem o padrão da série em 3D: entre, explore, observe o ambiente, mate alguns inimigos (ou não), pegue o mapa, a bússola, algumas chaves, a chave mestra, enfrente o chefe e fim. A maioria dos puzzles se baseiam em pisar em um botão que abre uma porta, empurrar um bloco até algum lugar, abrir uma abertura na parede para possibilitar a luz, usar determinado item na parte certa... lembro que quando jogava na época do Nintendo 64, eu achava esse jogo bem difícil, mas a real é que, depois de jogá-lo em sua versão do 3DS, percebo que, na verdade, as mini dungeons acabam muitas vezes sendo mais difíceis do que as principais!
As dungeons possuem conceitos bem definidos e são bem legais de serem concluídas, bem funcionais. Os conceitos são bons, especialmente a de abrir válvulas no Great Bay Temple (o templo da água do jogo – muito menos estressante do que o de Ocarina of Time).
Em alguns pontos, Majora’s Mask 3D parece ter facilitado as coisas em relação ao original no Nintendo 64: os chefes agora possuem enormes pontos fracos, na forma de um olho gigante e, quando enfrentei o primeiro, Odolwa, fiquei desapontado: ele simplesmente não atacava se eu não chegava perto. Essa morosidade do chefe me deixou triste, porém os outros tiveram dificuldade normal, e mostra que o jogo possui conceitos de chefes muito bons, especialmente a luta/corrida contra Goht e o uso da Giant’s Mask que deixa Link gigante e com punhos fortes contra o verme gigantesco Twinmold, em uma batalha longa e que drena muita vida e magia (aliás, esse é o jogo da série onde o gerenciamento de recursos, como flechas, magia e corações, é mais bem implementado – em vários momentos tive que ir procurar flechas e magias, ou se não já chegava munido de uma poção em um pote).
Mas a parte mais cansativa de Majora’s Mask certamente é ficar trocando de itens na tela de pause. Hoje em dia essa troca é muito mais rápida, sem pausar, e extremamente eficiente, como Skyward Sword fez, e acertou. É a parte mais datada, e poderia ter sido corrigida pela equipe de produção do jogo. Seria uma adição muito bem-vinda.
E ficar tocando músicas na Ocarina seguidamente também é uma estupidez, no último templo pensei que teria que ficar tocando a mesma música (de sete notas), ver a pequena ceninha de Link soprando a Ocarina (ou do Goron tocando seus tambores, ou do Zora na sua guitarra ou do Deku Scrub em seus trompetes), e só de imaginar isso já me arrepiava de tédio... sorte que essa dinâmica foi utilizada pouquíssimas vezes, um sinal de que a equipe logo percebeu que isso não seria bom para o jogo. Ótimo.
“Você se encontrou com um destino terrível, não é?”
Majora’s Mask 3D é um jogo bem colorido, que esconde a estranheza e toda a escuridão do jogo. Outro jogo da série que tentou fazer isso, e não conseguiu, foi Skyward Sword. Ambos os mundos estão em perigo iminente, e durante os três dias o desespero dos habitantes de Termina vai aumentando, até que no último dia poucos sobram na cidade, a maioria foge de seu destino terrível. Talvez, também, pelo jogo ter uma contagem de tempo muito específica essa iminência da catástrofe pôde ser melhor trabalhada.
O jogo trata de temas variados, como perda, morte, doença, casamento, traição... temas um tanto pesados para um jogo voltado para crianças, tornando Majora’s Mask o jogo mais adulto da série, seguido por Twilight Princess (que possui uma atmosfera bastante obscura também). Os temas são tratados com profundidade, e Link surge não como o Herói do Tempo (ninguém em Termina tem conhecimento de Hyrule ou sobre os eventos ocorridos em Ocarina of Time), mas sim como o herói do momento, muito mais para os dramas pessoais dos habitantes do que da catástrofe lunar.
Jogar com atenção é imperativo para compreender os tremas que o jogo quer tratar, com momentos bem tristes e de caráter emocional. Link conversa até com os mortos e amaldiçoados, e suas máscaras fazem as pessoas dizerem coisas diferentes dependendo do momento. Afinal de contas, quando vestimos uma máscara (metafórica), quem as pessoas enxergam: você de verdade ou a máscara? Acho que é essa é a pergunta principal de Termina ao jogador de Majora’s Mask. Certamente um tema filosófico que deve ir além do jogo, com mais estudos. Temas positivos como amizade, confiança e perdão também são tratados com muita sutileza e beleza pelo jogo.
O remake para o 3DS está muito digno, e trouxe poucas, porém bem vindas mudanças, enquanto manteve algumas coisas que poderiam ter sido consertadas. No geral, é uma experiência melhor do que a do Nintendo 64, que sofria para rodar o jogo (logo que peguei no 3DS percebi que Link estava rápido demais, e achei que estava a 60fps, quando descobri que estava a 30 e que originalmente rodava a terríveis 17~18 – trágico). Os gráficos melhorados, as texturas mais vivas e a trilha sonora tão boa quanto antes, com músicas que ficam na cabeça, mostram que Majora’s Mask 3D é a versão definitiva do clássico.
The Legend of Zelda: Majora’s Mask 3D vem mostrar que o jogo é atemporal. Acredito que em 2030 o jogo ainda será divertido de ser jogado e que seus temas ainda serão relevantes. O clima estranho do jogo, como um espelho distorcido da realidade de Ocarina of Time, adiciona um elemento de curiosidade enorme nos jogadores. Pegue seu 3DS, vista sua melhor máscara e mergulhe em Termina.
O melhor: As máscaras, simples ou de transformações, trazem uma excelente dinâmica ao jogo, além de serem incentivos para completar missões paralelas;
O pior: Ceninhas repetidas toda vez que você conversa com determinado NPC após voltar no tempo, impossíveis de serem puladas.
Nota final: 9,5/10,0 (Três dias não é o bastante!)
http://jogadorpensante.com/2015/03/04/netos-review-the-legend-of-majoras-mask-3d/
http://jogadorpensante.com/2015/03/04/netos-review-the-legend-of-majoras-mask-3d/